Ainda tem muita gente que acha que guarda compartilhada é complicada e que só “confunde” a cabeça das crianças. Mas com organização, maturidade, respeito e dedicação, é possível, sim, criar os filhos em duas casas. Após a separação de um casal com filho, a lei prevê que a guarda compartilhada deve ser estabelecida sempre que possível, dessa forma ambos os genitores têm poder de decisão sobre o filho ou filha, tal como se ainda fossem casados. Ou seja, os pais acordam a respeito de tudo o que envolve o dia a dia do menor – desde qual médico levar a qual escola matricular. A sentença estabelece um domicílio fixo na casa do pai ou da mãe, mas ele pode pernoitar alguns dias da semana no outro genitor. “Os pais quando têm bom relacionamento acabam fazendo esses acordos de ampliar a convivência do filho com o outro genitor, de modo que o filho passa a morar um pouco com um e um pouco com outro, mas eles continuam tomando decisões juntos sobre a criança. É diferente da guarda alternada, que é rara, porque implica que o genitor que está com a criança naquele período é o único responsável por ela, cabendo apenas a supervisão do outro. Ou seja, ele toma sozinho a decisão que achar mais adequada”, explica o advogado Caio Martins Cabeleira, sócio do escritório Martins Cabeleira e Lacerda Advogados e fundador da Associação de Direito de Família e Sucessões. As mulheres que contam suas histórias a seguir, colocaram suas diferenças com os ex de lado e optaram pela guarda compartilhada pelo bem-estar dos filhos.
“Estamos com guarda compartilhada dos nossos filhos há 10 meses. Desde que terminamos, nunca tivemos dúvida que queríamos isso, pensando no bem-estar das crianças. Eles têm uma boa rotina e relacionamento com os dois, amam quando chega o dia de ir para a casa do pai e amam quando voltam pra ficar comigo. Passam uma semana com cada um. Às vezes, eles ficam com vontade de ir para lá algum dia em que estão comigo, eu ligo e o pai vem buscar, assim como se querem voltar antes, eu vou buscar, sem problemas. Fazemos sempre a vontade deles nesse sentido, não os obrigamos a ficar se não querem, mas também quase nunca precisamos. Até então não tivemos nenhum problema. A mais velha, de 6 anos, vai entrar na escolinha agora, então optamos por ela passar a semana comigo e o pai ir buscar aos finais de semana, pela questão da rotina de levar e buscar e fazer as tarefas. Melhor que não tenha essa mudança de semana em semana, nesse caso. Por consequência, ele vai ficar com o menino, de 4 anos, durante a semana e no final de semana traz. A parte da educação é o único momento em que temos alguns problemas. Eu educo de um jeito e ele, de outro. Na casa do pai é mais festa, eles comem o que querem, se aprontam o pai não castiga. Mas nada grave também, só que comigo eles estão sempre comendo saudável, eu castigo quando tenho que castigar. Mas desde quando éramos casados, aprendemos não tirar a autoridade um do outro.” Valquiria Rodrigues de Miranda, 26 anos, dona de casa
“Temos a guarda compartilhada desde 2015. Fui casada por quase 10 anos. Desde o primeiro momento foi definido que a guarda seria compartilhada e que não haveria pensão, mas, sim, uma divisão de despesas e isso funciona bem. Não somos amigos, mas também não somos inimigos, a gente faz tudo de uma forma que seja melhor para as crianças. Quando tem festa da escola vamos juntos no mesmo carro. Quando meu filho vai pra alguma disputa de jiu jitsu, meu ex-marido passa em casa e pega todos nós para irmos juntos. Eu já estou em outro relacionamento e ele também, fazemos isso só pelo bem das crianças mesmo. O acordo é: o pai pega toda quarta e devolve quinta, e pega toda sexta e devolve uma semana no sábado e outra na segunda. Dividimos férias e feriados e somos flexíveis com querer pegar o filho para datas importantes, seja um aniversário ou feriado. Nós dividimos o Natal e Ano-Novo, além da semana santa e do carnaval. Nos aniversários deles, ficam metade do dia com cada um. As crianças gostam de ficar com os dois. A mais nova, de 5 anos, não se lembra de quando fomos casados, separamos quando ela tinha dois anos. O mais velho, 10 anos, nos prefere separados. Eu e meu ex-marido nos casamos muito jovens e no fim nos tornamos pessoas muito diferentes – e meu filho percebia isso. O pai é rígido e eu sou mais light. Um jamais tira a autoridade do outro, isso ficou muito bem acordado. Antes de nos separarmos, combinamos que criaríamos uma rotina de acordo com a agenda de cada um. Como meu horário é mais flexível, ele escolheu os dias que fossem mais tranquilos para pegá-los. As atividades de escola são feitas somente comigo, eu que os levo e busco sempre na escola, inglês, esportes… o pai só os pega e entrega na minha casa. Combinamos também que namorado nenhum meu, nem namorada dele dormiria nas nossas casas quando as crianças estivessem por entendermos que as casas são deles. Estamos sempre decidindo juntos sobre qualquer assunto deles. Não é simples, mas acredito que é o melhor a se fazer pelas crianças. O desejo de ter filhos felizes nos une de forma a não querer que nada atrapalhe isso, nem nossas diferenças conjugais.” Daniela Fernandes, 35 anos, empresária
“Estamos separados há dois anos e, desde então, temos a guarda compartilhada. Conversamos sobre os detalhes da nossa filha, no mesmo dia que decidimos nos separar e foi tudo feito de forma tranquila. E dá supercerto! Nossa filha está adaptada a isso e funciona bem demais. Ambos temos carro, então, às quartas eu deixo ela na creche pela manhã, ele pega à noite e, às quintas, ele a deixa na escola e eu pego à noite. No caso dela, as tarefas são feitas na própria escola durante a semana e só no final de semana são enviadas para casa. Então, quem está com ela ajuda. Nós dois mantemos contato sempre e estamos a todo momento nos atualizando sobre as atividades feitas com ela, inclusive, já saímos juntos para que ela não perca a ideia de família, sabe? É importante para nós que ela entenda que, mesmo separados, estamos aqui sempre e para tudo que ela precisar. Dividimos tanto as tarefas, como a parte financeira. Nas festas dela, por exemplo, que são sempre comemoradas na escola, cada vez um ajuda um pouco com os custos. Os feriados são alternados e o Natal, Ano-Novo, carnaval, datas comemorativas em geral, também alternamos. Não somos exatamente amigos, mas nos damos bem como pais. Também respeitamos muito a individualidade um do outro e tentamos não nos meter na educação que o outro dá, nem passar por cima. Acho que a forma que encontramos de manter esse equilíbrio foi com muita paciência, diálogo e, principalmente, maturidade. Entendemos que a nossa filha não tem nada a ver com a nossa separação e que, apesar de tudo, seremos para sempre os pais dela. Então, ela vem sempre em primeiro lugar em qualquer circunstância.” Juliana Paim, 35, administradora
“Tenho duas filhas com guarda compartilhada há 16 anos. A Sabrina tem 19 anos e a Jade, 18. Elas eram bem pequenininhas quando nos separamos. Foi o juiz quem determinou a guarda compartilhada, acho que fomos um dos primeiros casais a usar esse método. Eu sempre brinco com meu ex e digo que, como marido, eu posso ter 1 milhão de coisas para questionar e reclamar dele, mas como pai, não consigo pensar nem em uma. Desde quando estávamos juntos, ele sempre foi um pai excelente. No começo da guarda, ele vinha às terças e quintas, ficava aqui em casa mesmo, sem nenhum problema, passava o dia todo com elas, saía para almoçar, passear, ajudá-las com as lições, nós conversávamos e discutíamos se estava tudo bem com as meninas e ele ia embora. Alternávamos os finais de semana e, nas férias de escola em julho, elas passavam 15 dias comigo e 15 com ele. Natal e Ano-Novo também eram alternados. Nossa maneira de educá-las sempre foi parecida, então isso tornou tudo mais fácil. No começo, foi bem complicado, pois me separei por motivos de traição. Então, falávamos somente o necessário. Foram meses mais frágeis. Hoje, nós temos uma relação muito boa mesmo, somos uma família e seremos pra sempre. Ele frequenta minha casa com a atual esposa dele e eu também frequento a dele com meu marido. Tenho amigos que diziam que guarda compartilhada devia ‘ser um inferno’, mas é o contrário. Conseguimos educá-las muito bem separados, talvez até melhor do que se estivéssemos juntos, porque não brigávamos. Hoje, como elas já são grandes, deixamos a questão de para onde vão e com quem querem ficar na mão delas. As duas estão na faculdade e eu moro muito longe de onde estudam. Então, elas foram morar com o pai sem crise. Elas dirigem, conseguem ir e vir quando quiserem.” Viviane Falguera Alvarez, 47 anos, diretora comercial COMUNICAR ERRO